“Grease – Nos Tempos da Brilhantina”: Retrata as amizades, os romances e as
aventuras de um grupo de estudantes americanos da década de 1950. Adaptação
para as telas de um grande sucesso nos palcos da Broadway, o filme elevou John
Travolta à condição de estrela e marcou a estréia da cantora Olivia Newton-John
no cinema.
Filmado em 1978 e dirigido por Randal
Kleiser, a história principal centra em um casal de estudantes que trocam juras de amor, mas se separam nas
férias de verão, pois ela voltará para a Austrália. Entretanto, os planos mudam
e Sandy por acaso se matricula na escola de Danny. Para fazer gênero, ele,
infantilmente, lhe dá uma esnobada, mas os dois continuam apaixonados, apesar
do relacionamento ter ficado em
crise. Esta trama serve como pano de fundo para retratar o
comportamento dos jovens da época.
Na sociedade dos anos 70,forças econômicas criaram um
sentido primordial de desencanto e futilidade na esfera
pública da América. Além disso, os acontecimentos políticos também
contribuíram para a reação subseqüente da
América cultural, fazendo a sociedade se voltar mais às
preocupações pessoais, individuais. A proeminência dos
movimentos de justiça social, característicos dos anos 1960, se
dissipou ao longo dos anos 1970, tornando os americanos mais
preocupados consigo mesmos do que com o bem maior, ou seja, o indivíduo em
contraponto à sociedade.
Classes diferentes, antes de tudo,
possuem modos e estilos de vida distintos, mas em decorrência dessa sociedade
consumista, quando elas começam a desejar as mesmas coisas, tribos com valores
semelhantes se criam dando origem ao individualismo. Isto porque as pessoas se
preocupam com seu status pessoal e não mais com a comunidade em geral,
consumindo bens de alto e pequeno valor. Apesar desse individualismo de consumo
de certas coisas, ainda tem-se uma classe alta ou “alta” cultura de consumo,
que são as pessoas com maior poder aquisitivo e que têm interesses
diferenciados ao de uma “baixa” cultura; como exemplo: enquanto os de alto
poder são mais intelectuais e procuram a diversão e o lazer em museus, a baixa
tem uma diversão menos qualificada em relação ao intelectualismo. Com todos
esses grupos se manifestando, o mercado tem sempre um lucro maior, pois o
consumismo é exagerado, tanto pelos burgueses quanto pela nova pequena
burguesia, gerando estilos de vida que fazem a cultura pós-moderna se expandir.
Filmes que se tornaram identificadores de uma época, como “Sem Destino” (Easy Rider - 1969), de Denis Hopper, demonstram como o cinema adotava a juventude não apenas como tema, mas a considerava também como um público novo e que precisava ser conquistado. Era, ao mesmo tempo, protagonista da história e consumidor de seu produto. A indústria cinematográfica sempre seguiu não apenas as modas e os sintomas culturais do momento, como se aproveitou delas de forma eficiente e criativa. Não foi de outro modo com os filmes dedicados à mania das danças, como o sucesso “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”.
O filme “Grease”, que apesar de ter sido
filmado depois de “Os Embalos de Sábado à Noite”, nos mostra acontecimentos que
vieram antes. Quando analisamos suas cenas, vemos jovens que vivem um momento
de liberdade que sucede o conforto pós-guerra que a sociedade norte-americana
vinha passando. Os jovens tentam achar uma maneira de acabar com a repressão em
seus comportamentos. Os rapazes estão chegando à sua maioridade e, assim, começam
a comprar carros dos últimos modelos, motos e as mulheres já não querem ser
apenas as donas de casa que estavam sempre à disposição de seus maridos. Uma
cena do filme que mostra claramente um momento de união entre o homem e a
mulher na sociedade para acabar com as regras impostas na nela é a cena de “racha” de carros.
Mais do que a historinha do casal de verão que, por
acaso se reencontra no colégio, o que de fato move “Grease” é a busca por um retrato
da juventude dos anos 50. Se este período histórico representa o momento em que
o american way of life se estabelece como o modelo padrão que
impulsiona o capitalismo, o filme sintetiza a consolidação da sociedade de
consumo numa cena em que um carro comum se transforma em uma super máquina, um
estilo de vida. Muito mais que as lanchonetes, os drive-ins e os parques de
diversões tornam-se o desejo de consumo que forma a base do american
dream. Se a trama central gira em torno da liberação sexual da
mocinha, esta só ocorre quando a mesma se confronta com a alegria que a
transgressão provoca em seus amigos.
Já,
no filme “Os Embalos de Sábado à Noite”, Tony
Manero (John Travolta), um jovem do Brooklyn e um excelente dançarino de
disco music, só encontra significado na vida quando dança, pois passa a semana
trabalhando em uma loja de tintas, algo que não o gratifica de forma nenhuma.
Assim, ele se perfuma, se veste de um jeito fashion e vai para a discoteca no
final de semana. Sob a influência de seu irmão, um padre frustrado, e de
Stephanie (Karen Lynn Gorney), sua parceira de dança, começa a questionar a
maneira como encara a vida e a limitação de suas perspectivas. Paralelamente, Tony vive uma crise amorosa, enquanto se
prepara para participar de um concurso em uma discoteca.
O filme, e precisamente John Travolta, fez escola
fora do cinema. Todos os jovens queriam dançar conforme Tony e se vestir conforme Tony,
o carismático personagem de Travolta neste filme, que achou na dança uma
identidade para sair da rotina que não lhe dava um prazer pessoal. Sua performance, vestindo um terno
branco e apontando o dedo para o céu, fez dele um ícone
popular da cultura americana no final de 1970. Assim, John Travolta
preencheu a vaga do cinema deixada por Fred Astaire e Gene
Kelly. Tony personifica a luta americana para
sobreviver, sentimento difundido durante o período de dificuldades que o país enfrentava.
A trilha sonora do filme complementa o espírito
enérgico de Tony, que, ao dançar,
afasta de seus pensamentos a dura realidade em que vive no Brooklin. E, assim,
o filme é responsável pela popularização da era disco, da vida noturna e da
subcultura ilustrada no personagem em sua jornada pela auto-realização. Apesar
de Tony eventualmente perceber suas
limitações, suas deficiências pessoais, essa caracterização representa com
autenticidade um herói urbano.
Milhões de americanos se reuniram
para ver o filme porque era mais como ir a um concerto do
que assistir a um filme sobre as realidades da vida no
Brooklyn. Por isso, o filme reflete uma mudança de
tendência no cinema no final dos anos 1970.
O filme tem como trilha sonora principal
a batida pulsante da clássica canção “Staying
Alive”, dos Bee Gee’s. Sua letra é como um hino para o personagem principal
retratado, Tony, que tem uma
personalidade que oscila entre acessos de raiva e fúria com a
vulnerabilidade sensível e a ambição. Além disso, Tony exibe uma personalidade “boca suja”, racista
e sexista em alguns casos, mas, ao mesmo tempo, bem-humorado
e charmoso em outras ocasiões.
A
busca pela auto-realização, por uma identidade própria de cada indivíduo e pelo
culto à imagem ganham impulso na sociedade norte-americana de 1970. O impacto
dessas caracterizações será percebido, em especial, a partir da manifestação de
novos hábitos e costumes que reproduzem e se disseminam na sociedade em questão. A cultura de
massa da época passa por intensas transformações, seja nos aspectos
relacionados à moda e comportamento, seja pela influência musical e dos meios
de comunicação, como enfatizamos várias vezes nessa análise.
Com
isso, podemos analisar a moda dos anos 70, que é marcada por roupas mais justas
e o uso excessivo de tecidos coloridos e brilhantes, como uma forma de
libertação pessoal. A minissaia, vinda dos anos 60, vira hit no mundo da moda e
passa a ser um artigo indispensável para a juventude dessa época, que quer
causar impacto. As calças boca-de-sino, camisa de gola rolê, sapatos
plataformas e os tecidos sintéticos ou naturais compõem o figurino básico de
grande parte das mulheres e homens.
A
maquiagem contava com cores frias (verde, azul, roxo) que ressaltava os olhos,
deixando-os bem marcados com o uso de cílios postiços. O corte de cabelo para
os homens eram médios encostando na gola da camisa e havia um hábito de deixar
barba e bigode. Já no cabelo das mulheres dominava o uso de franjas, corte em
camadas, pontas bem arrebitadas e o uso do laquê era indispensável, uma maneira
mais rebelde, saindo do cabelo certinho da mulher tradicional.
O
ritmo musical, agora, não era mais o Rock and roll, mas estava crescendo a era
disco. O termo é derivado da abreviação da palavra discotheque e, no início,
era associado a clubes noturnos frequentados por grupos sociais excluídos como
homossexuais, negros e latinos, que é o caso de Tony Manero. Somente
quando os meios de comunicação (rádio e televisão) começaram a dar visibilidade
ao movimento disco é que ele passa a ser disseminado no território
norte-americano e em outros países europeus. Esse fenômeno aconteceu ainda nos
primeiros anos da década de 70 e foi responsável tanto pela proliferação de
casas noturnas específicas para esse gênero, como pela mudança de status de um
estilo marginalizado para um estilo frequentado pela alta sociedade americana.